V Domingo da Páscoa A
No Evangelho dos domingos passados, vimos a preocupação de Jesus em formar uma Comunidade, que continuasse a Sua obra. Este domingo convida-nos a reflectir sobre esta comunidade – a Igreja – que nasce de Jesus e cujos membros O seguem como "o Caminho, a Verdade e a Vida", dando assim testemunho deste projecto de Deus.
A primeira leitura apresenta-nos alguns traços que caracterizam a Igreja: é uma comunidade santa, embora formada por homens pecadores; é uma comunidade estruturada hierarquicamente, mas onde o serviço da autoridade é exercido no diálogo com os irmãos; é uma comunidade de servidores, que recebem dons de Deus e que põem esses dons ao serviço dos irmãos; e é uma comunidade animada pelo Espírito, que vive do Espírito e que recebe do Espírito a força de ser testemunha de Jesus na história.
Na segunda leitura, S. Pedro compara a Igreja a um edifício espiritual, no qual Cristo é a "Pedra angular" e os cristãos "Pedras vivas". O antigo templo de Jerusalém construído com pedras materiais será substituído por esse novo templo formado de pedras vivas.
O Evangelho define a Igreja: é a comunidade dos discípulos que seguem o "caminho" de Jesus. Os que acolhem esta proposta e aceitam viver nesta dinâmica tornam-se Homens Novos, que possuem a vida em plenitude e que integram a família de Deus – a família do Pai, do Filho e do Espírito.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos,
os helenistas começaram a murmurar contra os hebreus,
porque no serviço diário não se fazia caso das suas viúvas.
Então os Doze convocaram a assembleia dos discípulos e disseram:
«Não convém que deixemos de pregar a palavra de Deus
para servirmos às mesas.
Escolhei entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria
para lhes confiarmos esse cargo.
Quanto a nós, vamos dedicar-nos totalmente
à oração e ao ministério da palavra».
A proposta agradou a toda a assembleia;
e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo,
Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão,
Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
Apresentaram-nos aos Apóstolos
e estes oraram e impuseram as mãos sobre eles.
A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais;
o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém
e submetia-se à fé também grande número de sacerdotes.
Refrão: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.
Justos, aclamai o Senhor,
os corações rectos devem louvá-l'O.
Louvai o Senhor com a cítara,
cantai-Lhe salmos ao som da harpa.
A palavra do Senhor é recta,
da fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor.
Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome.
Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
Caríssimos:
Aproximai-vos do Senhor, que é a pedra viva,
rejeitada pelos homens,
mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus.
E vós mesmos, como pedras vivas,
entrai na construção deste templo espiritual,
para constituirdes um sacerdócio santo,
destinado a oferecer sacrifícios espirituais,
agradáveis a Deus por Jesus Cristo.
Por isso se lê na Escritura:
«Vou pôr em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa;
e quem nela puser a sua confiança não será confundido».
Honra, portanto, a vós que acreditais.
Para os incrédulos, porém,
«a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular»,
«pedra de tropeço e pedra de escândalo».
Tropeçaram por não acreditarem na palavra,
à qual foram destinados.
Vós, porém, sois «geração eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo adquirido por Deus, para anunciar os louvores»
d'Aquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Não se perturbe o vosso coração.
Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim.
Em casa de meu Pai há muitas moradas;
se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito.
Vou preparar vos um lugar e virei novamente para vos levar comigo,
para que, onde Eu estou, estejais vós também.
Para onde Eu vou, conheceis o caminho».
Disse Lhe Tomé:
«Senhor, não sabemos para onde vais:
como podemos conhecer o caminho?»
Respondeu-lhe Jesus:
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vai ao Pai senão por Mim.
Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.
Mas desde agora já O conheceis e já O vistes».
Disse Lhe Filipe:
«Senhor, mostra nos o Pai e isto nos basta».
Respondeu lhe Jesus:
«Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheces, Filipe?
Quem Me vê, vê o Pai.
Como podes tu dizer: 'Mostra-nos o Pai'?
Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?
As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio;
mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras.
Acreditai-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim;
acreditai ao menos pelas minhas obras.
Em verdade, em verdade vos digo:
quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço
e fará ainda maiores que estas, porque Eu vou para o Pai».
ORAÇÃO UNIVERSAL
Caríssimos irmãos:
Oremos a Deus Pai, que de nós fez o seu povo,
e, pela mediação do seu Filho Jesus Cristo,
peçamos-Lhe todas as graças para a Igreja e para o mundo,
dizendo, com alegria:
R./ Abençoai, Senhor, o vosso povo.
1. Pelos pastores e pelos fiéis da santa Igreja,
para que sigam a Jesus ressuscitado,
caminho para o Pai, verdade e vida, oremos.
2. Pelos que prestam algum serviço aos cidadãos,
para que o façam com espírito fraterno
e estejam atentos às carências dos mais pobres, oremos.
3. Pelos cristãos perturbados e abatidos,
para que creiam em Deus Pai e no seu Reino
e nas promessas de vida eterna do Evangelho, oremos.
4. Por aqueles que o mundo põe de parte,
as viúvas, os idosos e os que já não produzem,
para que se olhe para eles como pessoas, oremos.
5. Por todos nós e pelos outros paroquianos,
para que o Espírito nos torne pedras vivas
deste templo que é a santa Igreja, oremos
6. Por todos os que sofrem as consequências da actual pandemia,
para que Deus nosso Senhor, conceda a cura aos enfermos,
Força aos que trabalham na saúde, conforto às famílias
e a salvação a todos as vítimas mortais, oremos.
Senhor nosso Deus e nosso Pai,
que em vosso Filho nos mostrastes o caminho
para chegarmos até Vós e em Vós vivermos,
dai-nos a graça de sermos pedras vivas
do templo santo que é a vossa Igreja.
Por Cristo, nosso Senhor.
Pai, nós Te damos graças pelo teu Espírito Santo, que suscita em todo o tempo, nas nossas comunidades, iniciativas para o acolhimento do teu Reino.
Nós Te pedimos por todos os ministérios e serviços na Igreja, pelos diáconos, leitores, catequistas, pelos cristãos empenhados nas pastorais especializadas, a saúde, a informação, etc.
Nós Te damos graças por Jesus Ressuscitado: Ele é a pedra viva e a pedra angular, que a morte não conseguiu eliminar. Ele é a rocha sobre a qual repousa a nossa fé. Por Ele e n'Ele nós Te apresentamos as nossas oferendas espirituais. Nós Te pedimos pelo teu povo, templo espiritual, nação santa, sacerdócio real, para que ele testemunhe em todo o lugar a tua admirável luz.
Pai, nós Te bendizemos por Jesus, teu Filho, porque Ele é para nós o Caminho, a Verdade e a Vida. N'Ele descobrimos o teu rosto.
Nós Te pedimos: pelo teu Espírito Santo, faz-nos reconhecer e habitar na tua presença. Que Jesus, a tua Palavra viva, habite em nós e suscite obras de salvação. Que Ele nos conduza para Ti.
fará também as obras que Eu faço
e fará ainda maiores do que estas.» Jo 14,12
Os milagres próximos
Voltaram os jacarandás a encher de flores lilases o céu sobre as nossas cabeças. Será que outras cidades têm o privilégio desta "visita" a anunciar o verão? Lisboa parece pintada por Van Gog ali no Parque Eduardo VII, na avenida D. Carlos, na 5 de Outubro e noutras ruas e pequenos pátios. Parar para os contemplar é obrigatório! É um pequeno milagre oferecido de graça por entre a azáfama e o coração apertado.
Não é fácil falar de milagres. Há quem contemple tudo como milagre, descobrindo em cada coisa a maravilha da existência, e também quem o não faça, recusando qualquer dimensão sobrenatural naquilo que nos rodeia. À procura de milagres "salta-se" de igreja em igreja, de culto em culto. É verdade que o próprio Jesus, que realizou alguns milagres, recusou o título de "milagreiro", tão do agrado de quantos vivem a relação com Deus na esperança destes "rebuçados" que vêm ao encontro dos seus desejos. Especialmente na cruz, tentado a uma saída espetacular e convincente, Jesus revela o milagre na fidelidade, no amor até ao fim. O seu caminho provoca-nos e interpela-nos.
Fui há dias ver o filme "Lourdes" de Jessica Hauser que, como o título indica, decorre à volta do santuário de Nossa Senhora de Lourdes e de um grupo de peregrinos nos quais se destaca Christine, uma jovem mulher com esclerose múltipla, presa a uma cadeira de rodas. É um filme denso, cuja realizadora diz não acreditar em milagres, mas ao mesmo tempo aberto ao mistério. Questiona uma certa linguagem "espiritual" à volta do sofrimento e do próprio Deus, cheia de "respostas feitas" ou de afirmações que não recolhem a dor de quem sofre. Tem presente o dilema de Epicuro sobre a bondade e omnipotência de Deus aqui simplificado: se é bom não é omnipotente pois então acabaria com o mal; se é omnipotente não é bom, pela mesma razão. Abre-se à possibilidade de diálogo e de debate. Diálogo sobre os milagres e sobre Deus, sobre a fé e a graça, o sofrimento e a felicidade. Mas ninguém conte com um filme fácil!