III Domingo do Tempo Comum - B
A primeira leitura diz-nos – através da história do envio do profeta Jonas a pregar a conversão aos habitantes de Nínive – que Deus ama todos os homens e a todos chama à salvação. A disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus e em percorrer um caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta adequada ao chamamento de Deus.
No Evangelho aparece o convite que Jesus faz a todos os homens para se tornarem seus discípulos e para integrarem a sua comunidade. Marcos avisa, contudo, que a entrada para a comunidade do Reino pressupõe um caminho de "conversão" e de adesão a Jesus e ao Evangelho.
A segunda leitura convida o cristão a ter consciência de que "o tempo é breve" – isto é, que as realidades e valores deste mundo são passageiros e não devem ser absolutizados. Deus convida cada cristão, em marcha pela história, a viver de olhos postos no mundo futuro – quer dizer, a dar prioridade aos valores eternos, a converter-se aos valores do "Reino".
LEITURA I – Jon 3,1-5.10
Leitura da Profecia de Jonas
A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas nos seguintes termos:
«Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive
e apregoa nela a mensagem que Eu te direi».
Jonas levantou-se e foi a Nínive,
conforme a palavra do Senhor.
Nínive era uma grande cidade aos olhos de Deus;
levava três dias a atravessar.
Jonas entrou na cidade, caminhou durante um dia
e começou a pregar nestes termos:
«Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída».
Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus,
proclamaram um jejum
e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno.
Quando Deus viu as suas obras
e como se convertiam do seu mau caminho,
desistiu do castigo com que os ameaçara
e não o executou.
Refrão: Ensinai-me, Senhor, os vossos caminhos.
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças, que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.
O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
O que tenho a dizer-vos, irmãos,
é que o tempo é breve.
Doravante,
os que têm esposas procedam como se as não tivessem;
os que choram, como se não chorassem;
os que andam alegres, como se não andassem;
os que compram, como se não possuíssem;
os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem.
De facto, o cenário deste mundo é passageiro.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Depois de João ter sido preso,
Jesus partiu para a Galileia
e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Caminhando junto ao mar da Galileia,
viu Simão e seu irmão André,
que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
Disse-lhes Jesus:
«Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».
Eles deixaram logo as redes e seguiram-n'O.
Um pouco mais adiante,
viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam no barco a consertar as redes;
e chamou-os.
Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados
e seguiram Jesus.
Uma afirmação: "Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus." O Reino de Deus resume a esperança de Israel num mundo novo de Paz e de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. Era um facto esperado há muito tempo pelo Povo do Senhor. Terminou esse longo tempo de espera; o Reino de Deus está no meio de nós e as promessas estão a realizar-se.
Duas Condições para participar desse Reino: "Arrependei-vos e acreditai no Evangelho"
Arrepender-se quer dizer mudar a mente e o coração, reformular os valores da vida, para que Deus ocupe nela o primeiro lugar. É rever e remover de nós tudo aquilo que nos afasta de Deus e dos irmãos.
Acreditar no Evangelho não quer dizer apenas conhecer o que lá está escrito, mas aceitar Cristo e os valores que Ele propõe para a nossa vida. Escutar a Sua palavra e conformar a nossa vida aos seus mandamentos, que se resumem num só: O amor a Deus e ao próximo.
Um Convite: Para continuar e completar esse Reino, Cristo convida os primeiros apóstolos e, hoje, a cada um de nós: "Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens".
Escolhe pessoas simples, pobres, desconhecidas. Pareceria mais lógico que Ele tivesse escolhido sacerdotes, fariseus e escribas, profundos conhecedores das Sagradas Escrituras. No entanto, a Sua escolha foi outra! Porquê? Mais uma vez Deus prova que a grandeza das coisas de Deus não aparece na imponência dos factos ou das pessoas, mas na humildade, na simplicidade, onde geralmente existe mais fé.
O chamamento
– é sempre uma iniciativa de Deus dirigida a pessoas "normais". Não aconteceu enquanto estavam a rezar ou a fazer algo de extraordinário, mas enquanto exerciam a sua profissão;
– é sempre radical e incondicional; exige que o "Reino" se torne o valor fundamental, a prioridade, o principal objectivo do discípulo;
– é sempre para aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma experiência de vida, para aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no amor a Deus e aos irmãos;
– exige uma resposta imediata, total e incondicional, que deve sobrepor-se a tudo o resto, para seguir Jesus e para integrar a comunidade do Reino.
O chamamento para integrar a comunidade do "Reino" não é algo reservado a um grupo especial de pessoas, com uma missão especial no mundo e na Igreja, mas é algo que Deus dirige a todas as pessoas. Todos os baptizados são chamados a ser discípulos de Jesus, a "converter-se", a "acreditar no Evangelho", a seguir Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida.
Cristo continua a dirigir, ainda hoje, o mesmo apelo: "Vinde após mim, farei de vós pescadores de homens." Se tivermos medo, se nos sentirmos incapazes para tanto, olhemos para esses pescadores da Galileia, pobres e muito simples, mas com uma generosidade sem limites. Largaram tudo e seguiram a Jesus.
A nós, também, Ele continua exigir as mesmas condições para poder segui-l'O: "Arrependei-vos e acreditai no Evangelho."
Renovemos a nossa fé para compreendermos a grandeza deste convite e assim teremos a generosidade necessária para poder segui-l'O.
Salva-Vidas
Uma catequista, para fazer rir as colegas, contou o episódio, que transcrevo:
"Estava a dar uma lição de catequese sobre Aquele que foi o maior 'Pescador de Homens' de sempre. Percebendo que as crianças não compreendiam o porquê deste título, dediquei a aula a esse esclarecimento. Depois de ter esgotado todos os meus argumentos, perguntei se alguém me sabia dizer, afinal, quem era esse 'Pescador de Homens'. Uma menina levantou o braço e respondeu bem alto:
- É um salva-vidas! "
Aquelas senhoras riram-se, não sei se pelas limitações da catequista ou se pela própria incapacidade de apreender a profundidade da declaração.
De facto, todos nós somos náufragos: às vezes sentimo-nos perdidos no alto-mar desta vida, açoitados por tempestades, navegando na escuridão. Precisamos de ajuda, de um autêntico salva-vidas. Se Deus chama alguém é para enviá-lo a salvar, para acender uma luz, dar a mão, trazer a um bom porto. À minha volta cada irmão é para mim um salva-vidas, enviado por Deus. E o mesmo Deus também me chama a ser um salva-vidas para o meu irmão.
Se quem caminha a meu lado cair uma vez, a culpa será sua. Mas se cair uma segunda vez, a culpa será minha porque não lhe dei a mão.