A Liturgia da Palavra deste Domingo sublinha, com insistência, a preocupação de Deus em apontar ao homem o caminho da salvação e da vida definitiva. Ajuda-nos, assim, a prepararmo-nos para os acontecimentos da Páscoa, que se aproxima: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.Na primeira leitura, Javé apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança. É um dos trechos mais significativos do Antigo Testamento. Deus tinha feito uma aliança no Sinai, entregando a Moisés os dez mandamentos escritos em pedra. O povo aderiu à aliança, porém, mais com a boca, do que com o coração. Por isso, Deus pensou em algo novo: uma nova aliança. Nela os mandamentos não serão gravados na pedra, mas no coração. Uma aliança que o tempo não apagará. Não será uma imposição externa, mas uma disposição interior para percorrer os caminhos de Deus.
A segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança, que se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse caminho (e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu) passa por viver no diálogo com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência radical aos seus projectos.
O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, que selou a Nova Aliança com o seu próprio sangue na Cruz e a aprender com Ele, a segui-l'O no caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e eterna que Deus nos quer oferecer.
Leitura do Livro de Jeremias
Dias virão, diz o Senhor,
em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá
uma aliança nova.
Não será como a aliança que firmei com os seus pais,
no dia em que os tomei pela mão
para os tirar da terra do Egipto,
aliança que eles violaram,
embora Eu exercesse o meu domínio sobre eles, diz o Senhor.
Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel,
naqueles dias, diz o senhor:
Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma
e gravá-la-ei no seu coração.
Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
Não terão já de se instruir uns aos outros,
nem de dizer cada um a seu irmão:
«Aprendei a conhecer o Senhor».
Todos eles Me conhecerão,
desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor.
Porque vou perdoar os seus pecados
e não mais recordarei as suas faltas.
Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro.
Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.
Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão-de voltar para Vós.
Leitura da Epístola aos Hebreus
Nos dias da sua vida mortal,
Cristo dirigiu preces e súplicas,
com grandes clamores e lágrimas,
Àquele que O podia livrar da morte
e foi atendido por causa da sua piedade.
Apesar de ser Filho,
aprendeu a obediência no sofrimento
e, tendo atingido a sua plenitude,
tornou-Se para todos os que Lhe obedecem
causa de salvação eterna.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém
para adorar nos dias da festa,
foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia,
e fizeram-lhe este pedido:
«Senhor, nós queríamos ver Jesus».
Filipe foi dizê-lo a André;
e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus.
Jesus respondeu-lhes:
«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado.
Em verdade, em verdade vos digo:
Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;
mas se morrer, dará muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á,
e quem despreza a sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém Me quiser servir, que Me siga,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.
E se alguém Me servir, meu Pai o honrará.
Agora a minha alma está perturbada.
E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora?
Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.
Pai, glorifica o teu nome».
Um grupo de gregos, que estavam em Jerusalém para celebrar a Páscoa, pedem: "Queríamos ver Jesus!", isto é, conhecê-lo em profundidade. Não se dirigem directamente a Jesus, mas aos discípulos, por isso servem-se de dois mediadores: Filipe e André.
Jesus faz-se ver através da imagem
do "grão de trigo". O grão de trigo cai e morre para produzir muito fruto. A fecundidade da vida manifesta-se na morte. Assim foi para Jesus, assim será para cada um de nós.
Para conhecer, de facto, Jesus devem morrer as seguranças humanas, o apego à própria vida e à sabedoria humana (que os gregos tanto valorizavam); deve morrer tudo o que nos afasta do projecto de Jesus, especialmente a violência que tem ceifado tantas vidas inocentes. Precisamos de morrer para conhecer. E aponta o caminho para vê-lo: a Cruz. "Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim."
"Queríamos ver Jesus!"
Este pedido dos gregos é uma linda proposta de vida para todos nós. O homem de hoje também manifesta o mesmo desejo. Mas onde, quando, como encontrá-lo? Envolvidos em nossas inúmeras actividades, como os gregos de então, muitas vezes torna-se difícil ver o Deus amigo, companheiro de caminhada. E muito mais difícil é ver um Deus crucificado, como o pior criminoso dos homens e segui-l'O, como servidores fiéis.
"Queríamos ver Jesus",
"Caminho, Verdade e Vida", com o qual desejamos levar o irmão ao encontro pessoal com Cristo e proporcionar a todos os baptizados um conhecimento mais completo e uma experiência mais profunda da sua fé cristã.
"Ver" e "conhecer"
o Enviado do Pai para a Salvação ao mundo é o anseio profundo de todos os cristãos. O conhecimento e a experiência de Jesus Cristo gerarão em nós maior entusiasmo na vivência cristã e na acção missionária da Igreja. Assim será possível enfrentar os três grandes desafios da evangelização: Promoção da dignidade humana; renovação da comunidade e participação na construção de uma sociedade mais justa e solidária.
"Senhor, queríamos ver Jesus!"
Faz, Senhor, que os teus discípulos reconheçam o teu rosto no rosto dos pobres. Dá olhos para ver os caminhos da justiça e da solidariedade; dá ouvidos para escutar os pedidos de salvação e saúde; enriquece os seus corações de fidelidade generosa e compreensão para que se façam companheiros de caminhada, testemunhas verdadeiros e sinceros da glória, que resplandece no crucificado, ressuscitado e vitorioso.

Um homem abandonou a sua esposa e os seus filhos, pois sentiu uma sede infinita de se encontrar com Deus. Depois de muito caminhar, viu um peregrino e falou-lhe do seu propósito:
— Procuro a Deus. Leva-me até Ele.
O Peregrino respondeu-lhe que sabia bem onde encontrá-lo. Mas era preciso que ele se deixasse conduzir, e retorquiu-lhe:
— Para te levar até junto de Deus, preciso de vedar os teus olhos. Só os abrirás quando te disser.
Puseram-se os dois a caminho. O homem de olhos tapados, foi enchendo o seu coração do esplendor da luz divina, cada vez mais forte até que tirou a venda, abriu os olhos e ... viu-se em sua casa, ao lado da mulher e dos filhos. Era ali que Deus estava.
Jesus, no Evangelho de hoje, diz:
— Onde eu estiver, ali estará também o meu servo.
Então podemos concluir que onde estivermos aí estará o Senhor. Não precisamos de sair para longe pois Ele está bem perto. Imprimiu no íntimo da nossa alma e gravou no nosso coração o seu selo.
Também nós queremos conhecer Deus. Se soubéssemos que Deus estava no cimo de uma montanha, não nos furtaríamos a esforços para lá chegar. Mas afinal Ele está bem mais próximo, ao nosso lado, nos nossos irmãos e até dentro de nós. Basta abrir os olhos.

porque, chegada a hora,
Cristo foi o grão de trigo que, ao morrer,
deu fruto abundante,
o sol que agoniza na tarde
e ressuscitou na aurora,
o ramo de oliveira que superou o Inverno
rigoroso, a luz que venceu
as trevas, e o amor que derrotou o ódio.
Dá-nos, Senhor,
um coração novo para a Nova Aliança,
e renova-nos por dentro
com a força do teu Espírito, para que,
convertidos em filhos da luz,
em filhos teus,
vivamos a tua Lei de Amor
com mais desejo e alegria.
Assim os outros poderão ver
o rosto de Cristo reflectido em nós,
e glorificar para sempre
o Teu nome de Pai.
Amen.
Senhor, na escola da vida
apenas fomos educados para triunfar.
Temos que ganhar aos outros,
competir sem parar, medir-nos constantemente...
E Tu vens recomendar que percamos a vida,
enquanto todos nos dizem para a aproveitarmos,
para sermos obstinados;
que há que ser "lobo"
neste mundo feroz em que nascemos.
"Não te rendas, não desistas,
não te contenhas, não te compadeças,
não olhes para os outros, aproveita a vida!"
E assim, dentro de cada um de nós,
irrompe o desencontro, morre o amor,
reina o mundo das aparências, da hipocrisia
que gera inveja e falsidade à nossa volta.
Quero seguir-Te, Senhor!
Contigo, desejo também perder a vida,
o prestígio, a imagem,
as mil coisas que açambarquei em vão.
Anseio renascer para a simplicidade
e na escuta atenta do outro;
que eu me preocupe tanto com a vida
do meu irmão como da minha.
Ampara-me na partilha das minhas dúvidas,
dos meus medos e fracassos,
para ser grão de trigo e,
à tua maneira, também eu poder renascer
dando a minha vida pelo teu Reino,
na entrega total do meu ser.
Senhor, ajuda-me a partilhar a minha vida,
o meu tempo, as minhas coisas e o meu "eu".
Como Maria, nas Tuas mãos me entrego,
faça-se em mim segundo a Tua vontade...
Contigo ao meu lado...
já não preciso de ganhar mais nada.








