XXXIV Domingo do Tempo Comum - A
Solenidade de Cristo ReiNa segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse "Reino de Deus" de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e actuará como "Senhor de todas as coisas".
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o "Rei" Jesus a interpelar os seus discípulos acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechar-se em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Leitura da Profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor Deus:
«Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas
e hei-de encontrá-las.
Como o pastor vigia o seu rebanho,
Quando estiver no meio das ovelhas
que andavam tresmalhadas,
para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram
num dia de nevoeiro e de trevas.
Eu apascentarei as minhas ovelhas,
Eu as levarei a repousar, diz o Senhor.
Hei-de procurar a que anda tresmalhada.
Tratarei a que estiver ferida,
darei vigor à que andar enfraquecida
E velarei pela gorda e vigorosa.
Hei-de apascentá-las com justiça.
Quanto a vós, meu rebanho,
assim fala o Senhor Deus:
Hei-de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas,
entre carneiros e cabritos».
Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.
Ele me guia por sendas direitas,
por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo.
Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e o meu cálice transborda.
A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Cristo ressuscitou dos mortos,
como primícias dos que morreram.
Uma vez que a morte veio por um homem,
também por um homem
veio a ressurreição dos mortos;
porque, do mesmo modo que
em Adão todos morreram,
assim também em Cristo
serão todos restituídos à vida.
Cada qual, porém, na sua ordem:
primeiro, Cristo, como primícias;
a seguir, os que pertencem a Cristo,
por ocasião da sua vinda.
Depois será o fim,
quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai.
É necessário que Ele reine,
até que tenha posto todos os inimigos
debaixo dos seus pés.
E o último inimigo a ser aniquilado é a morte,
porque Deus «tudo submeteu debaixo dos seus pés».
Quando todas as coisas Lhe forem submetidas,
então também o próprio Filho Se há-de submeter
àquele que Lhe submeteu todas as coisas,
para que Deus seja tudo em todos.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos,
sentar-Se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão na sua presença
e Ele separará uns dos outros,
como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
'Vinde, bem ditos de meu Pai;
recebei como herança o reino
que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-Me de comer;
tive sede e destes-me de beber;
era peregrino e Me recolhestes;
não tinha roupa e Me vestistes;
estive doente e viestes visitar-Me;
estava na prisão e fostes ver-Me'.
Então os justos Lhe dirão:
'Senhor, quando é que Te vimos com fome
e Te demos de comer,
ou com sede e Te demos de beber?
Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos,
ou sem roupa e Te vestimos?
Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?'
E o Rei lhes responderá:
'Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes'.
Dirá então aos que estiverem à sua esquerda:
'Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o demónio e os seus anjos.
Porque tive fome e não Me destes de comer;
tive sede e não Me destes de beber;
era peregrino e não Me recolhestes;
estava sem roupa e não Me vestistes;
estive doente e na prisão e não Me fostes visitar'.
Então também eles Lhe hão-de perguntar:
'Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede,
peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão,
e não Te prestámos assistência?'
E Ele lhes responderá:
'Em verdade vos digo:
Quantas vezes o deixastes de fazer
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
também a Mim o deixastes de fazer'.
Estes irão para o suplício eterno
e os justos para a vida eterna».

Esta cena do juízo final não é uma descrição fotográfica do que vai acontecer no final dos tempos. Ela revela-nos que o amor é a condição essencial para fazer parte do Reino. O egoísmo e a indiferença para com o irmão não têm lugar no Reino de Deus. Quem ama não terá que temer o juízo de Cristo, Rei do Amor.
Jesus, no decorrer da sua vida – quando até seria fácil assumir esse título de "Rei" – não aceitou esse direito: na Sinagoga, onde falava com tanto brilho; no Jordão, onde a Trindade se revelou; no Tabor, quando apareceu com tanto esplendor e glória; nos milagres grandiosos, como na multiplicação dos pães, quando até queriam proclamá-l'O Rei.
Mas, diante de Pilatos, perante a iminência da cruz, Jesus afirma: "Sim, sou Rei, e para isso Eu vim ao mundo, mas o meu Reino não é daqui". Na Cruz, num trono bem diferente, diante de um povo hostil que o maltrata: "Se és Rei, salva-te a ti mesmo e desce da cruz!"; ao Bom Ladrão, que reconhece a Sua realeza e Lhe suplica – "Lembra-te de mim, quando estiveres no Teu Reino" –, Jesus lhe assegura: "Hoje, mesmo, estarás comigo no Paraíso."
O Prefácio da Missa também nos diz em que consiste esse Reino: "Reino da Verdade e da Vida; Reino da Santidade e da Graça; Reino da Justiça, do Amor e da Paz". É esse o verdadeiro Reino de Cristo.
O Reino de Deus é uma semente que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história através do amor e que terá o seu tempo definitivo, no mundo que há-de vir. No entanto, esse Reino já está no meio de nós. E Jesus convida-nos a fazer parte desse Reino e a trabalhar para que esse Reino chegue ao coração de todos os homens. É o que Ele nos convida a rezar, no Pai Nosso: "Venha a nós o vosso Reino..."

Quando eu tinha fome, deste-me de comer,
Quando eu tinha sede, deste-me de beber,
Quando eu estava sem casa, abriste-me as tuas portas,
Quando eu estava nu, deste-me o teu manto,
Quando eu estava cansado, ofereceste-me descanso.
Quando eu estava inquieto, acalmaste-me os tormentos.
Quando eu era pequeno, ensinaste-me a ler,
Quando eu estava só, trouxeste-me o amor,
Quando eu estava preso, vieste ver-me à minha cela,
Quando eu estava acamado, vieste-me tratar,
Em país estranho, fizeste-me bom acolhimento,
Desempregado, arranjaste-me emprego,
Ferido em combate, curaste-me as feridas,
Carente de bondade, estendeste-me a mão.
Quando eu era preto, amarelo ou branco,
Insultado e escarnecido, carregaste a minha cruz,
Quando eu era idoso, ofereceste-me um sorriso,
Quando eu estava preocupado, compartilhaste a minha pena.
Viste-me coberto de escarros e de sangue,
Reconheceste-me sob o meu rosto suado,
Quando me escarneciam, estavas a meu lado,
E quando eu era feliz, compartilhavas a minha alegria.
Faminto, não só de pão,
mas também de existir para alguém;
nu, não só por falta de roupa, mas também por falta de compaixão,
pois muito pouca gente a concede a desconhecidos;
desalojado não só dum abrigo feito de pedras,
mas dum coração amigo,
de quem a pessoa possa afirmar que tem alguém por si.
(Madre Teresa de Calcutá, in Trago-vos o Amor)

Uma vez apresentou-se no Céu um homem tão simples, tão humilde que até os santos se espantaram:
— Como é pequena a sua alma! Não tem as vestes brancas das Virgens, nem a coroa dos Mártires, não tem a estola dos Pastores nem a divisa das Ordens Religiosas. Que terá feito de especial para estar aqui?
O homem, já preocupado com isso, ainda tremeu mais ao ouvir as perguntas que Deus fazia a quem se aproximava:
— Partilhaste os teus bens com os pobres? Ensinaste a minha Palavra? Viveste os Mandamentos?
Quando chegasse a sua vez que iria responder? Nada partilhara porque nada de seu tivera. Não ensinou nem viveu os mandamentos porque nunca os aprendeu. Qual seria o seu lugar ali?
Chegado ao trono, Deus abriu o livro da vida, olhou para o homem e disse:
— Aqui está escrito apenas uma coisa: tu sorriste ao teu semelhante. E isto basta para teres o primeiro lugar no céu. Entra na alegria do teu Senhor.
Mais do que isto não quer de nós o Senhor. Não quer obras extraordinárias, não quer grandes jejuns ou longas penitências, não quer milagres, não. Quer a vida simples, com as suas cruzes diárias, com um sorriso nos lábios e a alegria no coração; quer-nos felizes fazendo felizes os outros.








